É público que os juros de crédito concedidos às empresas estão hoje em mínimos de 15 anos.
Esta notícia boa esconde no entanto questões preocupantes como refere Aníbal Campos, Presidente da AIMMAP no seu editorial da Tecnometal. É que para além dos juros baixos serem só para algumas (poucas!) empresas, continuam bem longe dos juros médios dos nossos concorrentes europeus, com implicações óbvias na nossa competitividade. Quando se trata de encarar estímulos às economias dos estados membros nem toda a Europa é igual. Há uma mais igual que as outras… Veja o editorial completo aqui
"Os juros do crédito às empresas
A comunicação social noticiou que os juros do crédito concedido às empresas portuguesas caíram para mínimos de 15 anos. Esta é porém uma notícia apenas parcialmente positiva.
Com efeito, é verdade que, desde que existe euro, teoricamente nunca as empresas portuguesas pagaram juros tão baixos.
Mas infelizmente, escondidos sob essa boa notícia genérica, há alguns dados que se mantêm preocupantes.
Na verdade, os juros baixos são privilégio de poucas empresas. E para que as taxas de juro médias sejam baixas como são, é preciso saber-se que isso acontece em Portugal, em parte, à custa de muitas empresas que nem sequer têm acesso ao crédito bancário.
Todos compreendemos que os bancos sejam prudentes na concessão de crédito à atividade empresarial. Mas o negócio bancário, por definição, terá de comportar alguns riscos. Ora, há um enorme número de empresas a quem os bancos pura e simplesmente não emprestam dinheiro. Pelo que o grosso do crédito concedido está excessivamente concentrado num número muito limitado de empresas – que são aquelas que não apresentam quaisquer riscos.
Naturalmente, esse é um fator que potencia a diminuição das taxas médias de juro a mínimos históricos. Mas convém todavia não tomar a nuvem por Juno e extrapolar de imediato que todas as empresas nacionais viram resolvidos, de repente, os seus problemas de financiamento.
Tão ou mais inquietante do que o atrás exposto será verificar-se que, ainda assim, apesar de os juros médios estarem alegadamente tão baixos, as empresas portuguesas suportam em tal âmbito custos muito superiores aos das suas congéneres europeias.
Para sermos mais precisos, em média as empresas portuguesas pagam em juros o dobro daquilo que é pago pelos seus concorrentes europeus.
Ora, é chocante que empresas portuguesas com balanços idênticos e riscos semelhantes aos oferecidos por empresas belgas, alemãs ou dinamarquesas paguem uma taxa de juro muito superior às de que estas últimas beneficiam.
Estas disparidades não só geram distorções intoleráveis em sede de concorrência como contrariam todos os princípios que supostamente estruturam o, por estas e por outras semelhantes, cada vez mais desacreditado projeto europeu.
Naturalmente, relativamente a esta questão, a responsabilidade não pode ser totalmente assacada aos bancos portugueses, pois a verdade é que, em média, também para estes, o custo do acesso ao dinheiro é superior ao suportado pelos seus concorrentes noutros países europeus.
Trata-se de uma perversão que terá de ser corrigida pelos burocratas de Bruxelas e de Frankfurt, os quais continuam a ser fortemente restritivos com o equilíbrio das contas públicas mas ignoram ostensivamente disparidades tão chocantes com estas.
A Europa impõe obrigações idênticas a todos os estados membros. Mas quando se trata de encarar os estímulos às economias desses mesmos estados faz vista grossa às disparidades e às desigualdades de tratamento.
Sinceramente, começa a ser cada vez mais difícil acreditar na genuinidade dos argumentos de todos aqueles que continuam a apregoar os benefícios da Europa unida e do mercado único.
Neste cantinho europeu, apesar do extraordinário esforço das nossas empresas, continuamos a ser penalizados a todos os níveis. O acesso ao crédito, os juros pagos, as certificações nacionais, as diferentes legislações que regulam os transportes rodoviários, o custo da energia e a enorme panóplia de barreiras artificiais que os países mais poderosos andam cada vez mais empenhados em criar, são indícios claríssimos de que a intenção de alguns é a de que haja filhos e enteados. Na verdade, conforme se constata, a Europa, quando nasce, não é para todos.
E o mais revoltante é que os nossos políticos continuem entretidos em campanhas eleitorais permanentes e não se deem conta dos males que estão a ser causados à nossa economia. Eu bem sei que o peso de Portugal é muito pequeno, mas será que não poderiam ao menos assumir o grito de revolta que cada vez mais nos asfixia a alma?
O Presidente da Direção
Aníbal Campos"