quarta-feira, 4 de março de 2009

Entrevista ao Presidente da Direcção da AIMMAP

António Saraiva, Presidente da Direcção da AIMMAP, concedeu uma interessante entrevista à revista “TecnoMetal”, publicada na edição n.º 180.
Passa a transcrever-se a referida entrevista neste blogue, na certeza de que na mesma são abordadas matérias da maior importância para as empresas do sector metalúrgico e metalomecânico.

"TECNOMETAL ENTREVISTA ANTÓNIO SARAIVA, PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA AIMMAP

1. Nestes momentos conturbados da economia portuguesa, como Presidente da Direcção da AIMMAP que tipo de mensagem entende ser importante transmitir aos associados?
Desde sempre que a Direcção da AIMMAP tem vindo a apostar de uma forma reiterada naquilo a que temos chamado os factores distintivos dos produtos e das empresas, incentivando os associados a apostarem na formação profissional, na propriedade industrial, na certificação, no design ou na investigação e desenvolvimento. E desde sempre igualmente que esta Direcção tem vindo também a sublinhar a necessidade de se apostar de forma estratégica e estruturada na cooperação e na internacionalização.
Tudo isto sempre assim foi mesmo quando a situação da economia era mais favorável. Para o atestar bastará aliás reler o nosso programa de candidatura aos órgãos sociais da AIMMAP ou os sucessivos planos de actividades que anualmente temos vindo a submeter à apreciação dos nossos sócios.
Actualmente, essas apostas estratégicas da AIMMAP continuam a fazer todo o sentido. Aliás, até diria que fazem cada vez mais sentido. Pelo que, a Direcção da AIMMAP insiste e continuará a insistir no mesmo tipo de discurso, estimulando as suas empresas a serem cada vez melhores e cada vez mais competitivas. Só sendo pelo menos tão boas como as melhores é que as nossas empresas poderão resistir e singrar.

2. Recentemente, num programa televisivo, defendeu, em termos filosóficos, iniciativas como a que foi levada a efeito sob o lema “Compre o que é nosso”, como instrumento de combate à crise na economia nacional. Quer esclarecer um pouco mais essa sua posição?
Em primeiro lugar quero sublinhar que não está subjacente a essa minha posição qualquer lógica proteccionista. Aliás, o Estado português seria verdadeiramente suicida se optasse deliberadamente por esse tipo de política.
O que defendo, que é substancialmente diferente, é que as empresas portuguesas em particular e os consumidores nacionais em geral apostem naquilo que poderemos qualificar como círculos de proximidade. A nossa pequena dimensão como país também nos permite retirar daí vantagens. E uma dessas vantagens é seguramente, para os agentes económicos, a da proximidade. Seríamos pois irresponsáveis se não a tentássemos aproveitar.
Sublinho ainda que a aposta em iniciativas de estímulo ao consumo de produtos portugueses deve ser encarada sem preconceitos e da mesma forma com que se encara a implementação de estratégias de internacionalização.
Em todo o caso, seja no mercado português, seja nos mercados globais, o cerne da questão está na ideia a que fiz referência na resposta à pergunta anterior: temos de saber fazer tão bem como os melhores. E é nesse sentido que deveremos trabalhar.

3. Qual o papel desejável do Estado português como forma de auxiliar as empresas nesta actual conjuntura negativa?
Apetece-me dizer que já faria muito se deixasse de atrapalhar. Por exemplo, pagando a totalidade da sua dívida aos respectivos fornecedores, a qual ascende a mais de 2.000 milhões de euros; reduzindo os prazos médios de pagamento das suas dívidas; sancionando os responsáveis políticos – centrais ou autarcas -, que tardam anos em pagar o que devem; restituindo o IVA aos contribuintes com celeridade; alterando o regime do pagamento do IVA por forma a que o mesmo seja devido no momento do recebimento e não no da facturação; ou agilizando e racionalizando o QREN.
Para além disso, tem de cumprir as suas obrigações estruturantes – no que se refere às empresas essencialmente em sede de Educação e Justiça -, e tem de ser um bom regulador aos mais diversos níveis.
Infelizmente, o Estado português não tem sido capaz de cumprir as suas atribuições mesmo quando a economia está melhor. Pelo que muito dificilmente poderemos acreditar que agora será capaz de o fazer em condições muito mais difíceis.
Os apoios do Estado são importantes e por vezes fundamentais. Mas estou convencido de que apenas poderão ser verdadeiramente competitivas as empresas que se libertarem de qualquer espécie de dependência do Estado e dos poderes públicos.

4. Voltando às empresas: os despedimentos são uma necessidade ou podem ser evitados com o recurso a soluções alternativas?
Neste momento difícil não há verdades absolutas nem medidas descartáveis.
Os despedimentos são previstos e permitidos por lei, podendo nalguns casos ser uma medida a adoptar pelas empresas como forma de as ajudar a enfrentar as dificuldades.
Mas obviamente que há alternativas que, se viáveis, são sempre preferíveis a soluções tão drásticas e radicais como os despedimentos. A conversão de contratos a tempo inteiro em contratos a tempo parcial, o recurso ao “lay-off” ou a adesão a algumas medidas excepcionais de combate ao desemprego, são seguramente opções menos dolorosas para todos os envolvidos. Mas infelizmente nem sempre será possível evitar o recurso aos despedimentos.
Uma coisa é certa em todo o caso. A esmagadora maioria das empresas apenas avança para despedimentos quando não vê alternativas viáveis. Só mesmo em último recurso.

5. Alguns responsáveis sindicais têm abordado essa questão na perspectiva exactamente oposta, afirmando que há empresas que estão a aproveitar-se da crise para proceder a despedimentos desnecessários. Quer comentar?
Trata-se de uma afirmação gratuita e sem qualquer fundamento. Admito que existam casos pontuais em que isso possa ter acontecido. Mas trata-se aí de casos residuais e sem qualquer expressão.
Tal como já o referi várias vezes, não aceito minimamente que se lance esse anátema sobre as empresas em geral por causa de eventuais comportamentos de uma minoria muito residual.
As empresas não gostam nem querem despedir. Pelo contrário, sabem que só com os seus trabalhadores poderão ultrapassar a crise. Pelo que, naturalmente, não os querem perder. E tudo fazem para evitar perdê-los.
Quando os responsáveis sindicais sugerem o contrário disto revelam um inquietante desconhecimento a respeito do funcionamento das empresas portuguesas.

6. Entretanto, independentemente da intervenção de cariz mais político da Direcção da AIMMAP, com que tipo de apoios podem contar as empresas do sector, dos serviços da associação para as ajudar a orientar-se neste momento mais difícil?
Esta associação tem desenvolvido um trabalho que, em termos genéricos, sem falsas modéstias, tenho de qualificar como notável. Temos dado provas aos nossos associados de que os sabemos ajudar em todos os momentos no que se refere aos mais variados assuntos e problemas. No ambiente, na legislação laboral, na propriedade industrial, na formação profissional na investigação e desenvolvimento, na certificação, na energia, na internacionalização ou na cooperação, a AIMMAP tem levado a efeito iniciativas da maior relevância, informando as empresas, protegendo o sector e reclamando dos poderes públicos as intervenções adequadas.
Ao contrário do Estado, nós temos sabido dar resposta às necessidades daqueles que representamos em todos os momentos. Nos bons e nos maus momentos.
As dificuldades não nos assustam. Pelo contrário, estimulam-nos a ser criativos e assertivos na procura das melhores soluções para as nossas empresas, aos mais diversos níveis.
É nas alturas mais difíceis que as associações devem mostrar o que valem. Nesse sentido, para além daquela que é a nossa actividade normal, estamos neste momento a acompanhar com maior proximidade e detalhe as medidas que sejam susceptíveis de contribuir para mitigar os efeitos da crise. Bons exemplos disso são os seminários e sessões de esclarecimento levados a efeito sobre o novo Código do Trabalho, sobre o lay-off, sobre as medidas excepcionais de apoio ao emprego ou sobre outras iniciativas e medidas afins. Mas de igual modo estamos a trabalhar no sentido de procurar identificar boas causas em que as empresas se possam envolver, como por exemplo a internacionalização, a investigação e desenvolvimento, a propriedade industrial, a cooperação ou a formação profissional. É exactamente nesse âmbito que, ainda muito recentemente, nos envolvemos na criação de três novas entidades: a PRODUTECH, tendo em vista a criação de um pólo de competitividade no agregado dos produtores de tecnologias; a AFIMACC tendo em vista o reforço da cooperação entre as empresas das fileiras dos materiais de construção e da casa; e o ARBITRARE, no sentido de promover a criação de meios alternativos de resolução de conflitos no seio da propriedade industrial.
Acrescento que o bom trabalho que a AIMMAP realiza é complementado pelo igualmente bom trabalho levado a efeito por outras entidades de que a AIMMAP é sócia fundadora e nas quais participa activamente nos respectivos órgãos sociais, como são os casos do CATIM, do CENFIM; da AFTEM, da CERTIF, da FELUGA, do INEGI, da CIP ou da PRODUTECH, entre várias outras.
Gostaria ainda de aproveitar esta oportunidade para divulgar que a AIMMAP irá realizar um conjunto de seminários para ajudar a orientar os seus associados, sob o lema “Compreender a crise, encontrar soluções.” Vamos nesse âmbito recorrer à colaboração de personalidades de referência na sociedade civil portuguesa, que nos podem ajudar a reflectir neste domínio. E posso inclusivamente anunciar que o primeiro seminário terá lugar no final de Março próximo, com a intervenção de Joaquim Aguiar, que é seguramente uma das pessoas que em Portugal melhor pensa a economia, a política e a sociedade.

7. Sendo esta entrevista dada à TecnoMetal, não poderíamos deixar de lhe pedir que comente o facto de esta revista completar neste ano de 2009 o seu trigésimo aniversário.
É uma honra muito grande para mim ter a oportunidade de desempenhar as funções de Presidente da Direcção da AIMMAP num momento em que esta sua tão prestigiada revista completa um aniversário tão marcante.
Recordo que estes 30 anos de publicação da TecnoMetal nunca sofreram quaisquer interrupções. É algo de notável e pouco frequente numa revista técnica e científica.
Aliás, perdoe-se-nos a imodéstia, é absolutamente justo que esta nossa revista seja, no seu segmento editorial, não só a líder de audiências como também a mais prestigiada publicação.
Vamos pois comemorar com o maior gosto e empenho esta efeméride através da realização de um conjunto de iniciativas que culminarão na organização do Fórum TecnoMetal, no próximo dia 13 de Março, em que a Inovação será o tema central.
Quem nos conhece melhor, sabe que será com o maior orgulho que iremos honrar este passado distinto da revista e daqueles que contribuíram para o sucesso que hoje constatamos. Mas sabe igualmente que, com igual ou maior empenho ainda, estamos sinceramente empenhados em criar condições para que o futuro da revista seja cada vez melhor. É precisamente para isso que estamos a trabalhar actualmente. E como em tudo o que aqui fazemos na AIMMAP, com a profunda convicção de que vamos conseguir ter sucesso."

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