quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sempre tarde e a más horas

Na edição n.º 201 da revista “TecnoMetal”,no respetivo editorial, Aníbal Campos,  presidente da direção da AIMMAP e diretor da revista, lembrou uma característica verdadeiramente típica dos portugueses.

Com efeito, não há dúvida de que a sina dos nossos compatriotas parece ser sempre a de tentar andar a reboque dos acontecimentos e reagir aos factos quando já é irremediavelmente tarde.

Por isso mesmo, nesta sua intervenção, referiu o presidente da direção da AIMMAP que andamos sempre a correr atrás do prejuízo.

Foi exatamente o que agora sucedeu com as medidas referentes ao corte de excessos de custos energéticos bem como à alteração do regime de licenciamento industrial.

Atendendo à importância do assunto em questão, transcreve-se nas linhas subsequentes o editorial em causa.

"Sempre a correr atrás do prejuízo

Foi anunciado que o governo irá cortar 170 a 190 milhões nos custos anuais da produção elétrica.

Esta é a concretização de uma das medidas preconizadas pela troika, a qual tinha chamado a atenção para o efeito negativo na economia dos excessos de apoios do estado português aos produtores de energia elétrica.
Segundo o Ministro da Economia, estas medidas deverão representar um corte de cerca de 1800 milhões de euros nos custos previstos para o setor elétrico até 2020, ou seja, poupanças de 40% face aos custos que estavam previstos.
Manifestamente, é estranho que a margem para cortar custos fosse tão ampla. E é legítimo concluir que andámos este tempo todo a gastar muito mais do que seria suposto.
O que se verifica é que apenas quando o país está verdadeiramente com a corda na garganta que os responsáveis políticos têm a coragem de reduzir custos que afinal são supérfluos.
Esta parece ser mesmo a nossa sina. Andamos sempre a correr atrás do prejuízo. E nunca conseguimos mudar o que está mal por inteligência mas sim apenas por necessidade ou até mesmo por cosmética.
Ainda recentemente tivemos um exemplo semelhante com a reforma do licenciamento do industrial, a qual, sendo uma medida positiva, não deixa ainda assim de ser tardia e descontextualizada. Na verdade, quando tínhamos dinheiro para investir, as burocracias impediam-nos de o fazer. E só quando não há crédito para suportar os nossos investimentos é que nos aliviam finalmente a carga burocrática.
Salvas as devidas proporções, este caso tem algumas similitudes. Quando tínhamos condições para ser mais competitivos, carregavam-nos com custos desnecessários. E só quando estamos verdadeiramente asfixiados é que nos poupam ao excesso de custos.
Não se pense que estamos contra as medidas aqui em causa ou que criticamos este governo em especial pelo que fez no âmbito destas duas medidas. Apenas lamentamos que neste país nunca se seja capaz de atuar nos momentos certos e que algumas medidas apontadas durante anos como fundamentais para a economia só sejam concretizadas quando o respetivo impacto acaba por ser pouco mais do que residual.
Independentemente do exposto, relativamente à questão concreta dos cortes nos custos anuais da produção elétrica, há aqui um outro dado que, no mínimo, nos deve merecer a maior atenção.
Com efeito, a previsão do governo é a de que a redução do peso destes custos na fatura irá ser de 5%. O que, para um leigo menos desconfiado deveria corresponder a uma diminuição do preço da energia elétrica nessa mesma percentagem.
Porém, segundo foi anunciado pelos jornais, o Secretário de Estado da Energia veio já dizer que aquela redução não significa que a fatura elétrica deixe de subir, uma vez que, passa a citar-se, “a evolução dos preços depende do mercado e do regulador.”
Perante estas afirmações, a minha experiência permite-me desde já arriscar uma previsão: os preços da energia elétrica não irão descer e é até provável que continuem a aumentar. E nem as empresas nem as famílias irão beneficiar minimamente destas medidas. Pode ser – e espero -, que me engane. Mas daqui a um ano estaremos aqui para fazer um balanço.

O Presidente da Direção
Aníbal Campos"

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