Denunciou ainda o facto de a definição conceptual de Inovação ser frequentemente encarada em Portugal de uma forma altamente restritiva.
Considerando a acuidade do tema abordado, transcreve-se nas linhas subsequentes o referido editorial.
"Financiamento comunitário à Inovação
Foi recentemente anunciado que o estado português tem sido, nos últimos tempos, um dos países com melhor execução dos fundos do QREN.
Esta é seguramente uma boa notícia que além disso não deixa de ser surpreendente face à perceção que havia sobre o assunto.
E quanto a isso, há pois que dar os parabéns às entidades que em Portugal intervêm na gestão dos fundos em causa.
Apesar de tudo se analisarmos todos os números neste âmbito com algum detalhe, constataremos que em algumas matérias há muitas coisas a melhorar. E uma dessas é claramente a questão da Inovação.
Há muito tempo que Portugal deixou de poder competir nos mercados globais com base em políticas de preços baixos. Nesse sentido, a aposta tem sido a de produzir e vender cada vez mais produtos com maior valor acrescentado.
No nosso setor, essa evolução tem sido muito clara, sendo visível o investimento efetuado pelas empresas nos chamados fatores de diferenciação.
A aposta na Inovação é seguramente uma das mais importantes que as empresas nacionais poderão fazer nesse processo de alteração do seu posicionamento no mercado.
Em todo o caso, como é sabido, o investimento em Inovação – aí compreendida a Investigação e Desenvolvimento -, implica para as empresas um forte esforço financeiro.
No atual contexto de crise, em que as empresas em geral se confrontam com graves dificuldades no acesso ao financiamento, a margem que sobra para investimento em Inovação é por vezes residual.
Consequentemente, é verdadeiramente fundamental que as empresas portuguesas e o país em geral obtenham cada vez mais financiamento comunitário para fazer face a tais necessidades de investimento.
Seria pois expectável que esse trabalho de captação de fundos para uma área que é verdadeiramente estratégica estivesse a ser feito de forma consistente.
Sucede que, analisados os números neste âmbito, confrontamo-nos com conclusões que chegam a ser quase chocantes.
Na verdade, em sede de Inovação, o nosso país está a ser atualmente contribuinte líquido no seio da União Europeia. Ou seja, a contribuição financeira do país nesse âmbito é quantitativamente superior aos montantes que capta de financiamento comunitário no mesmo domínio.
Isto implica que Portugal está a apoiar o investimento em Inovação dos outros países da União Europeia num valor que é superior à ajuda que recebe.
Sendo Portugal um dos países mais debilitados da UE e também um daqueles em que a cultura de Inovação se encontra menos disseminada aos mais variados níveis, aquela constatação suscita a maior perplexidade.
Impõe-se assim que se faça alguma coisa de concreto no sentido de inverter esta realidade.
A primeira coisa a fazer passará necessariamente por desafiar as empresas a submeterem cada vez mais os seus projetos de Inovação a financiamento comunitário.
Para tanto, compromete-se a AIMMAP continuar e mesmo reforçar o trabalho que tem desenvolvido nesse domínio, seja diretamente, seja através das entidades em que está envolvida como o CATIM, a PRODUTECH ou o INEGI, entre outros.
Outra intervenção fundamental passa por uma redefinição das políticas públicas de incentivo à Inovação, as quais continuam, do ponto de vista conceptual, a ser altamente restritivas. A indústria portuguesa é constituída por uma maioria esmagadora de micro, pequenas e médias empresas. Não obstante, em Portugal os modelos idealizados nesse âmbito adequam-se preferencialmente à realidade das grandes empresas, as quais, conforme é sabido, são uma pequena minoria do nosso tecido empresarial.
Com todo o respeito que é devido ao trabalho desenvolvido aos mais diversos níveis pelas grandes empresas, há todavia que assumir a coragem de ajustar as políticas de incentivo à Inovação à realidade das PME’s.
Há que reconhecer os esforços desenvolvidos diariamente pelas PME’s no sentido de inovarem em novos produtos, em novos processos de fabrico ou mesmo em novos paradigmas de organização.
Há que ter a consciência de que, nas PME’s, a Inovação jamais poderá ser um departamento estanque das organizações, estando sim integrada de uma forma incindível em tudo o que é feito no dia-a-dia.
Há que estimular e reconhecer os avanços efetuados nesse domínio por pequenos empresários e respetivos trabalhadores.
E, mais ainda, há também que sensibilizar as empresas e o Estado para a enorme amplitude do próprio conceito de Inovação.
Finalmente, importa continuar a apostar numa crescente aproximação entre as empresas e as universidades. E interessa igualmente explicar com pragmatismo que a Investigação não se reduz à investigação científica e tecnológica da mesma forma que a Inovação não se cinge à inovação tecnológica.
O Presidente da Direção
Aníbal Campos"
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