sexta-feira, 2 de março de 2012

Dívidas do setor público

No editorial da edição n.º 198 da revista “TecnoMetal”, o Presidente da Direcção da AIMMAP alertou para o facto de as dívidas do setor público continuarem a crescer.

Sendo certo que a situação é profundamente preocupante, transcreve-se em seguida o referido editorial.
"O crescimento das dívidas do setor público
Apesar dos avisos da troika e de todos os esforços que o governo defende estar a desenvolver no sentido de reduzir o endividamento, as dívidas do setor público continuam a aumentar de forma assustadora.Segundo os dados constantes do Boletim de Execução Orçamental divulgado em janeiro último, as dívidas do setor público a fornecedores, por pagar há mais de 90 dias, cresceram 760 milhões de euros, o que correspondeu a um aumento de 15,6%.Relativamente ao último mês então disponível – novembro de 2011 -, o aumento mensal foi de 129 milhões de euros, o que se traduziu num crescimento de 2,3%.
Estes dados são altamente inquietantes, por um conjunto diversificado de motivos.
Em primeiro lugar porque parecem revelar que Portugal continua a falhar no cumprimento das metas que se propôs atingir no esforço de consolidação orçamental. Ao contrário do que seria suposto, pelo menos nesta importante rubrica o endividamento continua a aumentar.
Em segundo lugar, porque se o estado não paga, agravam-se as dificuldades dos fornecedores, os quais são na sua esmagadora maioria empresas privadas.
Finalmente, porque se o estado deve cada vez mais dinheiro, continuará a não poupar a banca, pressionando-a no sentido de se financiar. E se assim é, sabendo como se sabe que os recursos disponíveis da banca portuguesa são cada vez mais escassos, sobrará cada vez menos dinheiro para financiamento bancário às empresas privadas.
Do exposto resulta que não só as nossas finanças públicas poderão afinal estar cada vez mais debilitadas como também que a economia real continuará a sentir-se asfixiada pelo menos nos tempos mais próximos.
Parece que, apesar das severas medidas de austeridade a que o país tem estado sujeito, as finanças públicas estão longe de caminhar para o equilíbrio. E para além disso que o crescimento económico do país continua a ser uma miragem.
Visto isto, parece inevitável uma de duas conclusões possíveis. Ou a receita da troika foi mal concebida ou no mínimo estará a ser mal aviada.
Seria importante que o governo português esclarecesse muito bem estes dados tão inquietantes e que contribuísse de forma empenhada no sentido de dissipar as angústias que inevitavelmente assolam as cada vez mais perplexas empresas portuguesas, principalmente quando constatam estes números.
Seria trágico para o país que os agentes económicos suspeitassem de que o governo não tem a certeza do que está a fazer. Que apesar dos sacrifícios que nos impôs, o governo não está certo de que a receita acordada com a troika é adequada ou está a ser corretamente executada.Sobre essa questão tem o palavra o Primeiro Ministro. Não numa conversa de circunstância, mas sim num diálogo permanente com empresas, associações, sindicatos, consumidores e todos os agentes económicos em geral.
Queremos acreditar que o rumo seguido pelo governo é o correto. Mas para isso é fundamental que nos esclareçam e fundamentalmente que nos estimulem.
O Presidente da Direção
Aníbal Campos"

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