terça-feira, 9 de novembro de 2010

O esquecimento a que o Norte está a ser votado

No editorial da edição n.º 190 da revista “TecnoMetal”, o Presidente da Direcção da AIMMAP lamentou que o Norte de Portugal esteja a perder capacidade de atrair investimento por razões que, muitas vezes, são provocadas pelo poder central.

Tendo em conta a importância e a pertinência do tema, publica-se nas linhas subsequentes deste blogue o editorial em causa.

"Coesão e convergência

É sabido que o Norte de Portugal é uma das regiões mais deprimidas em termos económicos e sociais da União Europeia. Infelizmente, o fosso entre a Região Norte por um lado e outras regiões do nosso país por outro lado continua a aumentar.
Como se tal não bastasse, o Norte e os centros de poder estão cada vez mais distantes entre si.
Para ilustrar tal asserção, bastará analisar os exemplos de algumas entidades públicas de grande relevância para a actividade empresarial, como a AICEP ou o IAPMEI, as quais, apesar de formalmente possuírem as suas sedes no Porto, já não têm nessa cidade um único administrador residente.
Sempre que um gestor ou empresário do Norte do país tem de contactar alguma instituição pública para tentar resolver um assunto importante para a sua empresa é obrigado a deslocar-se a Lisboa.
Ora, o nosso país em geral vai sendo cada vez menos atractivo para o investimento, não só estrangeiro como também nacional.
O Norte é afectado por tal situação tal como todas as restantes regiões do país. Sucede porém que a capacidade de atracção do Norte é em termos comparativos ainda mais estreita do que a do país.
A região Norte vive pois este drama de começar a consolidar a imagem de ser a zona menos atractiva de um país que já de si tem pouca capacidade de atrair investimento.
A AIMMAP tem obviamente um âmbito nacional, defendendo os interesses de empresas localizadas em todo o território português.
Não pode porém deixar de representar os interesses específicos das empresas de cada região. Seja, no Norte, no Centro ou no Sul do país, há empresas deste sector que reclamam o apoio da AIMMAP.
Nesse sentido, a nossa associação está profundamente inquieta com a indiferença a que as largas centenas de empresas suas associadas com sede na Região Norte estão a ser votadas pelo poder político e pela administração pública.
E legítimo que exijamos um maior acompanhamento do Estado a essas empresas.
E não podemos aceitar que, pelo contrário, ao invés de contribuir para mitigar este problema, o Estado português esteja a agravá-lo cada vez mais.
Nesse sentido, é fundamental que os serviços de apoio às empresas sejam rapidamente reforçados na região Norte e nomeadamente na cidade do Porto.
E é verdadeiramente curial que sejam correctamente canalizados para as chamadas regiões de convergência os fundos previstos no QREN para reforço da coesão do país.
Seria aliás lamentável que viesse a constatar-se que alguns desses fundos estão a ser desviados para outros fins. E que, concomitantemente, o Fundo de Coesão, ao invés de estar a contribuir para atenuar as diferenças e desigualdades entre as regiões mais pobres e as mais ricas, está, de forma perversa, a agravar ainda mais esse fosso.

O Presidente da Direcção
Aníbal Campos"


terça-feira, 28 de setembro de 2010

TecnoMetal entrevista Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP

“Continuamos a defender que o Código Contributivo deve ser pura e simplesmente revogado”

Em entrevista à TecnoMetal, Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP, analisa o estado do sector metalúrgico e metalomecânico em Portugal, pronunciando-se ainda sobre um conjunto de outros temas de grande actualidade e pertinência para as empresas filiadas na associação.

1.Há uma pergunta recorrente em todas as entrevistas efectuadas aos principais responsáveis da AIMMAP e é precisamente com ela que iniciaremos esta conversa: como está actualmente a saúde da indústria metalúrgica e metalomecânica portuguesa?
RCP: Se a questão que coloca é recorrente, também o enquadramento da resposta terá de o ser. Com efeito, é importante começar por dizer a esse respeito que o nosso sector é extremamente heterogéneo aos mais diversos níveis: dimensão das empresas, características dos produtos, tipos de clientes. Dentro do grande sector do metal há um conjunto de subsectores com especificidades evidentes. Daí decorre que nem sempre se possa fazer uma avaliação simplista do estado do sector metalúrgico e metalomecânico, sendo importante reconhecer que, em cada momento, haverá necessariamente alguns subsectores que se encontram em melhor situação do que alguns outros.
Apesar de tudo, há uma síntese que pode e deve ser feita. Nesse âmbito, o primeiro ponto a sublinhar é o de que o sector, tal como a generalidade dos restantes sectores portugueses, ainda está a sofrer os efeitos de duas crises simultâneas: a crise internacional e a crise portuguesa. A primeira implicou uma redução das exportações em 2009; a segunda afectou o consumo interno. Tais circunstâncias, associadas ou não, fizeram baixar a facturação e os resultados de um número grande de empresas do sector, particularmente ao nível das fileiras dos materiais de construção, dos fabricantes de máquinas ou dos componentes para o sector automóvel.
Para além do exposto, há a sublinhar o aumento dos preços das matérias-primas, dos custos energéticos e dos combustíveis. E não pode deixar igualmente de se sublinhar como importante factor de inibição da competitividade das empresas do sector, a crescente dificuldade no acesso ao financiamento bancário e algumas medidas erradas do governo e da administração pública, nomeadamente ao nível da fiscalidade, da formação e da justiça.
Não obstante o exposto, em termos globais, apesar de todas essas enormes contrariedades, o desempenho das empresas continua a ser positivo. E pode dizer-se que, depois de um ano de 2009 muito difícil, o presente ano de 2010 vai ser concluído com resultados muito melhores, evidenciando uma clara situação de recuperação e retoma.
Mas devo dizer que isso acontece quase exclusivamente em razão do esforço e da dedicação dos respectivos empresários, gestores e colaboradores. Aliás, deve dizer-se com toda a frontalidade que a receita para o sucesso de muitas das empresas do sector metalúrgico e metalomecânico nacional é a sua própria aposta na excelência, materializada designadamente num contínuo investimento nos chamados factores de diferenciação.
Apenas por tal motivo há cada vez mais empresas no sector que são verdadeiros casos de sucesso na economia nacional. E é inequívoco que também por tal motivo há tantas empresas desta indústria a resistir às constantes adversidades.

2.Em que indicadores a retoma a que se refere se torna mais evidente?
RCP: É sabido que este sector metalúrgico e metalomecânico tem vindo a ser aquele que, ao longo dos últimos anos, melhores performances tem revelado nos indicadores mais relevantes em termos económicos e sociais, como sejam a criação de emprego, o volume de exportações ou o investimento privado.
Tal como sucedeu na generalidade dos restantes sectores, em 2008 as empresas do sector recuaram também nesses domínios.
Verifica-se porém que, em 2010, está já a haver uma significativa recuperação nesse âmbito.
Assim, ao nível do emprego, o sector voltou a ser o único que criou postos de trabalho em termos líquidos. No investimento privado, embora mais ténue, a inversão da tendência do ano anterior também é uma realidade. E no que respeita às exportações, regista-se um crescimento de cerca de 13%, sendo além disso evidente que, como vinha a suceder até 2008, o sector metalúrgico e metalomecânico volta a ser o principal responsável pelo crescimento do volume de vendas de bens e produtos portugueses para o exterior.
Pena é que estes desempenhos raramente sejam reconhecidos pelos nossos governos. Esperemos que o estudo sobre o sector que em breve iremos divulgar ajude os observadores e os agentes políticos a olharem este magnífico sector com outros olhos.

3.Fez referência expressa à criação de postos de trabalho nas empresas do sector, mas a verdade é que a AIMMAP tem-se queixado de grandes dificuldades das empresas no recrutamento de mão de obra. Não lhe parece haver aí uma contradição?
RCP: Não há qualquer contradição. Pelo contrário, as duas questões estão absolutamente ligadas, sendo aliás certo que a constatação de tais dificuldades na contratação de trabalhadores apenas foi possível pelo facto de as empresas estarem efectivamente a investir na criação de emprego. Se as empresas não estivessem empenhadas na criação de postos de trabalho não teriam naturalmente detectado as dificuldades que a AIMMAP tornou públicas.
Devo esclarecer que essa conclusão não é meramente empírica. Resulta das queixas das empresas associadas mas também de um estudo rigoroso que a AIMMAP efectuou a partir de um inquérito que lançou à generalidade das empresas do sector.
A conclusão mais relevante desse estudo é a de que as empresas sentem muitas dificuldades em contratar pessoas que se encontram a receber subsídio de desemprego.
Nós não somos contra as políticas sociais de apoio aos desempregados. Mas havemos de convir que uma política que motiva os desempregados a continuarem a receber o subsídio de desemprego ao invés de preferirem trabalhar nas empresas é altamente nociva para a economia portuguesa. Apesar de algumas alterações que recentemente foram efectuadas à legislação de protecção do desemprego, é evidente que há ainda muitos mais ajustamentos a fazer no sentido de evitar que este verdadeiro escândalo continue a alastrar-se.

4.Em sua opinião quais os pontos mais relevantes da actividade da AIMMAP no presente ano de 2010?
RCP: O presente ano fica antes de mais nada marcado pelo facto de ter havido eleições para os órgãos sociais da AIMMAP, sendo de sublinhar a esse respeito que a participação no acto eleitoral em causa foi a mais significativa dos últimos 30 anos.
Por outro lado, independentemente de alguns factos ou eventos mais específicos que marcaram o ano de forma muito positiva e que pretendo realçar em seguida, quanto a nós o ponto mais relevante continuou a ser o trabalho de consultadoria e apoio diário aos nossos associados. Os nossos diversos departamentos prestaram no seu conjunto, até ao final de Agosto, um número superior a três mil consultas a associados. Por telefone, e-mail, fax ou pessoalmente. Nos domínios da legislação laboral, contratação colectiva, fiscalidade, propriedade industrial, certificação, normalização, ambiente, higiene e segurança no trabalho, economia, mercados e internacionalização entre vários outros. E com uma qualidade que é unanimemente reconhecida.
Num outro plano, regista-se a importante revisão dos estatutos da AIMMAP, aprovada em reunião da assembleia geral, com o objectivo de consolidar um diferente modelo de funcionamento da associação tendo em vista a resposta aos novos desafios que o futuro nos reserva.
De uma importância ainda mais relevante, há a enfatizar a celebração de novos contratos colectivos de trabalho aplicáveis às relações entre as empresas associadas da AIMMAP e a grande maioria dos seus trabalhadores.
Tais acordos foram o corolário de um longo processo que se havia iniciado com a denúncia e a concomitante caducidade dos velhos contratos colectivos de trabalho, concretizada pela AIMMAP há já alguns anos. Finalmente, as empresas do sector e as filiadas na AIMMAP em particular passaram a ter ao seu dispor contratos colectivos ajustados à realidade actual, os quais são verdadeiros instrumentos de apoio às empresas na gestão dos respectivos recursos humanos.
Não tenho a menor dúvida de que esse facto foi não só uma marca da actividade da AIMMAP no presente ano como além disso um marco altamente relevante na sua história riquíssima.

5.Relativamente ao ano de 2011, quais serão as matérias prioritárias para a AIMMAP?
RCP: Em primeiro lugar as que constam de forma mais enfatizada do programa de candidatura apresentado pela lista única que concorreu às eleições para os órgãos sociais e que actualmente dirige a associação.
Recordo a esse respeito que as prioridades anunciadas foram a internacionalização, a formação e a inovação. Estamos a preparar iniciativas específicas em cada uma dessas áreas.
Mas para além dessas, não descuraremos a defesa das nossas causas – sempre naturalmente ajustadas àquilo que o poder político vier a fazer em cada momento.

6.Seria oportuno que se pronunciasse relativamente a alguns dossiers específicos em que a AIMMAP procurará seguramente interagir com o poder político e a administração pública. Comecemos pelo Código Contributivo cuja entrada em vigor esteve prevista para o início de 2010 e acabou entretanto por ser adiada para 1 de Janeiro do próximo ano.
RCP: Entendemos claramente que o simples adiamento da entrada em vigor do diploma foi um erro. Esse adiamento foi um mero remendo que não resolveu o problema de fundo. O Código em causa é mau e não serve os interesses dos trabalhadores, das empresas e da economia em geral. Pelo que a sua eventual entrada em vigor seria muito negativa para o país. Assim sendo, conforme o defendemos antes, continuamos a entender que o Código deve ser pura e simplesmente revogado. É será preciso reflectir com serenidade antes de se decidir construir e fazer entrar em vigor um novo diploma em tal âmbito.

7. No que se refere a eventuais alterações à legislação laboral, qual a posição da AIMMAP?
RCP: Como posição de princípio, entendemos que não faz qualquer sentido que se proceda agora a alterações ao Código do Trabalho. Esse diploma entrou em vigor em 2009, pelo que seria prematuro estar já a revê-lo.
Encaramos todavia com bons olhos eventuais propostas que visem a vigência temporária de um regime transitório que agilize a contratação a termo.
Num momento em que apesar de alguma retoma, não há ainda sequer perspectivas de que a situação do país e do mundo vão melhorar, se nada for feito, a maioria das empresas poderá retrair-se na criação de mais postos de trabalho. Pelo que se o país quer mesmo criar mais emprego, tem de encarar esta matéria sem os habituais preconceitos.

8. Outra questão importante, prende-se com o facto de estar já previsto um aumento do salário mínimo nacional para € 500,00 em 2011. Qual a posição da AIMMAP?
RCP: Esta é uma matéria que nos preocupa muito. Alguns segmentos do nosso sector poderão ter grandes dificuldades em consequência de tal aumento.
Devo aliás dizer que um número apreciável de trabalhadores ao serviço de empresas de alguns subsectores do sector metalúrgico e metalomecânico – correspondente a cerca de 6% do total de trabalhadores do sector -, poderá estar a auferir em Janeiro de 2011 uma retribuição mensal inferior a € 500,00.
O aumento do salário mínimo nacional para tal valor irá pois, por si só, provocar significativas perdas de competitividade a diversas empresas.
Mas acresce que esse facto acabará por afectar a generalidade das empresas, uma vez que um aumento da retribuição mínima mensal garantida terá seguramente efeitos na generalidade dos salários, empurrando-os para níveis que muitas empresas não estarão em condições de pagar.
Em nosso entendimento, o aumento projectado terá no mínimo de ser faseado. E terá necessariamente de ser acompanhado de medidas de apoio a alguns sectores de actividade. Caso contrário, estamos convictos de que as nossas empresas perderão competitividade nos mercados internacionais com inevitáveis decréscimos das exportações nacionais.

9. Para finalizar este conjunto de questões, perguntamos-lhe qual a expectativa da AIMMAP relativamente à discussão e votação da Lei do Orçamento para 2011.
RCP: As nossas empresas em particular e o país em geral já não têm mais capacidade de resistência face a crises políticas mais ou menos artificiais. Os dois principais partidos políticos têm de ser verdadeiramente responsáveis. Em nossa opinião, PS e PSD estão condenados a entender-se no que se refere à Lei do Orçamento. Se não o fizerem serão, os dois, os principais responsáveis por uma crise gravíssima, de proporções que se antevêem verdadeiramente assustadoras.
Assim sendo, nem sequer nos passa pela cabeça que não venha a haver bom senso nesta matéria.

10. Para concluir. Como encara a AIMMAP a anunciada refundação do movimento associativo patronal de cúpula, nomeadamente através da reformulação da agora CIP – Confederação Empresarial de Portugal?
RCP: É sabido que a AIMMAP desde há muito tem estado altamente empenhada no reforço da actividade desenvolvida pela CIP.
Estando representada na Direcção da CIP, a AIMMAP participou activamente neste processo de consolidação daquela confederação.
Estamos certos de que a “nova” CIP tem condições para defender ainda melhor os legítimos interesses e as grandes causas da indústria nacional. Relativamente ao passado, houve ganhos de representatividade, de coesão e até mesmo de legitimidade.
A AIMMAP encara pois com grande entusiasmo esta nova fase da vida da sua confederação de cúpula, estando certa ainda de que com a sua actual liderança, mais do que nunca, a defesa dos interesses das empresas está em excelentes mãos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A enorme importância de um sector pouco reconhecido

A Comissão Europeia reconheceu muito recentemente, num trabalho com alguma difusão pública, que o sector metalúrgico e metalomecânico europeu parece por vezes invisível.
No editorial da edição n.º 189 da TecnoMetal, o Presidente da Direcção da AIMMAP, tendo como mote o referido trabalho da Comissão Europeia, lamentou a forma com que este sector do metal tem sido encarado por muitos agentes sociais e políticos.
Dado a pertinência do assunto, passa a transcrever-se o editorial em causa nas linhas subsequente deste blogue.
"O sector invisível

Muito recentemente o sector metalúrgico e metalomecânico foi classificado em textos da responsabilidade da Comissão Europeia como o sector invisível.
Como é óbvio, esta classificação não tem nada de oficial, sendo sim, pelo contrário, meramente oficiosa.
Pela carga simbólica que lhe está subjacente, não deixa ainda assim de ser uma expressão muito feliz.
Aparentemente, o sector metalúrgico e metalomecânico é invisível perante a opinião pública e o poder político, um pouco por toda a Europa.
É injusto e imerecido. Mas é a realidade das coisas! E muitos são os motivos para que assim suceda.
Em primeiro lugar porque o sector é constituído por uma significativa predominância de pequenas e médias empresas, as quais raramente são objecto de notícias na comunicação social. E nesta cruel sociedade em que vivemos, parece que quem não aparece nos media não merece existir.
Por outro lado, porque uma grande parte das empresas do sector está verdadeiramente esmagada por gigantes. De um lado os fabricantes de matérias-primas e os fornecedores de energia e do outro lado os grandes fabricantes do sector automóvel, da aeronáutica, da indústria ferroviária ou da construção civil e obras públicas. Ensanduichadas entre os aumentos dos preços impostos quase unilateralmente pelos primeiros e as pressões efectuadas pelos segundos no sentido de baixar os seus preços de venda, as empresas têm muito pouca margem de manobra.
Por outro lado ainda, porque uma parte significativa do sector acaba por trabalhar em regime de subcontratação, sem um impacto directo visível na economia e na sociedade.
Num outro plano, porque o sector não se queixa tanto como outros. Sofreu tremendamente com a entrada no mercado único de novos concorrentes asiáticos sem que tenha merecido o apoio das autoridades europeias e/ou dos países membros. Mesmo assim, foi obrigado a resistir completamente sozinho. E se foi capaz de vencer essa enorme batalha foi apenas pelos seus méritos e jamais em consequência de medidas proteccionistas ou restritivas.
Finalmente, porque o sector é ignorado e mesmo frequentemente desprezado pelo poder político, o qual, geralmente, privilegia os maiores, os mais poderosos e os mais mediáticos.
Por tudo isto, o sector metalúrgico e metalomecânico, muito contra a sua vontade, parece mesmo invisível.
Contudo, se analisarmos a presença efectiva das empresas do sector na economia europeia, facilmente chegaremos à conclusão de que esta invisibilidade é verdadeiramente iníqua.
E no que concerne especificamente ao caso português essa sensação de injustiça é seguramente ainda maior.
Este sector é o que mais contribui para as exportações portuguesas. É o único que continua a gerar postos de trabalho. É aquele onde mais investimento tem sido realizado. E é seguramente o que tem mais empresas com estratégias de excelência bem definidas.
Cabe-nos a todos, em conjunto, disseminar esta mensagem positiva e ajudar a combater as ideias erradas que subsistem a respeito do nosso sector e fundamentalmente a lutar contra a indiferença a que somos votados.
A AIMMAP desde há muito que tem vindo a travar essa luta. Mas é fundamental que as nossas empresas engrossem as nossas tropas de uma maneira efectiva. Temos de ganhar este combate, até porque estamos fartos de parecer invisíveis.
O Presidente da Direcção
Aníbal Campos"

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma nova visão do associativismo patronal

O Presidente da Direcção da CIP, António Saraiva, foi o convidado de honra da Associação Comercial do Porto na cerimónia de tomada de posse dos novos membros dos órgãos sociais da referida Associação, a qual teve lugar no passado dia 21 de Abril, no Palácio da Bolsa, no Porto.

Tendo em conta o significado e a notável riqueza das palavras proferidas pelo Presidente da CIP, publica-se nas linhas subsequentes o mencionado discurso, o qual foi entretanto também publicado na edição n.º 188 da revista “TecnoMetal”.

“É costume iniciar os discursos com a declaração solene de agradecimento ao dono da casa pelo convite e de grande satisfação pessoal por estar aqui convosco, no dia em que a Associação Comercial do Porto elege os seus novos Corpos Sociais.
É também assim que vou começar, mas hoje com uma nota muito especial: desta vez e nesta oportunidade, sinto que estou junto daqueles que, como o Vosso Presidente – pessoa que muito admiro e de quem sou amigo de longa data – e como todos Vós aqui presentes, vêem nas Associações um veículo para representar os nossos interesses, organizar as nossas vontades, defender as nossas causas.
É disso que verdadeiramente se trata quando se discute o associativismo e é precisamente de associativismo que gostaria hoje de falar convosco.
Ainda mais porque estamos na casa da mais antiga Associação empresarial portuguesa, que é herdeira da Juntina, a congregação que nos finais do Séc. XVIII reunia os homens de negócios do Porto para defesa dos seus interesses.
Ligada ao Porto e ao Norte, a Associação Comercial do Porto sempre manteve a sua marca identitária original, agregando as vontades e as expectativas dos empresários e homens de negócios do Norte.
É uma matriz expressiva e marcante, que tem de comum associar as motivações de pessoas que são, simultaneamente, homens de negócios e têm as suas raízes e os seus interesses implantados no Porto.
Esta é, aliás, a primeira razão de ser do associativismo.
Unir o que há de comum, partilhar o que nos liga, valorizar o que podemos fazer em conjunto, assumir que a soma das partes cria poder e aumenta a influência de cada um de per si.
Pouco importa se o que nos liga são os negócios, as profissões ou as regiões.
O que importa é que se saiba o que nos move e a causa comum que temos a defender.
Mas importa também saber porque nos unimos, porque escolhemos as causas, porque escolhemos quem as lidera.
O tema sobre o qual queria propor-vos uma reflexão é precisamente o do associativismo e, de entre este, o associativismo empresarial.
Mas por que razão uns de nós assumem as lideranças e recebem a confiança dos seus pares?
E por que razão outros de nós entendem que devem confiar nos líderes para conduzirem e representarem os seus interesses?

E, finalmente, por que razão aqueles que representam interesses diferentes dos nossos entendem que devem ouvir as nossas posições e tê-las em conta?
As explicações não são meramente filosóficas ou mesmo sociológicas. Assentam no princípio de que o homem é um ser social e resultam da própria organização das sociedades.
Aristóteles dizia que “o homem é por natureza um animal social, porque, se não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade. Agora é evidente que o homem, muito mais que a abelha ou outro animal gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza não faz nada sem um propósito”.
É este sentido social que nos move e nos organiza em torno das Associações.
Na generalidade dos países da Europa Ocidental e em diversos outros países das mais variadas regiões do globo, as organizações associativas empresariais assumem um papel incontornável na definição da estratégia do respectivo país.
Tudo o que se relaciona com a actividade económica do país, passa necessariamente pelo crivo das organizações que representam as empresas. E sempre que se discutam matérias estruturantes e verdadeiramente estratégicas, são os próprios Governos que procuram legitimar as decisões finais envolvendo de forma substantiva as organizações de cúpula. É isto que se passa na Alemanha, na França, na Itália ou na própria Espanha.
Infelizmente, o paradigma português é neste âmbito muito diferente.
E permito-me sugerir que as razões de tal diferença estão muito bem identificadas.
Para além de outras provavelmente menos importantes, há essencialmente três causas a que gostaria de fazer referência: individualismo, divisionismo e paternalismo.
Quanto à primeira – o individualismo - é óbvio que os empresários portugueses reflectem as mesmas características que são apanágio da generalidade dos seus compatriotas. Além de terem dificuldade em cooperar uns com os outros, padecem genericamente de falta de cultura associativa. Infelizmente, é esse o nosso código genético. Mas o certo é que, em resultado disso, o nosso tecido associativo acaba por ser mais fraco do que o desejável.
Como se não bastasse esta nossa debilidade intrínseca, acresce ainda um outro factor que perturba claramente a força e a coesão do nosso movimento associativo: o divisionismo.
Com efeito, temos uma tendência irreprimível para dispersar os nossos esforços na criação de organizações paralelas. Isto é desde logo assim ao nível das próprias Associações, onde não só se insiste em manter mais do que uma Associação em cada sector de actividade como também se persiste em fomentar sobreposição de esforços e iniciativas, nomeadamente em consequência de não haver uma fronteira nítida e clarificadora entre as competências das associações sectoriais e as das associações regionais.
Mas mais grave ainda é, pelas suas próprias consequências, o que se passa ao nível transversal.
O nosso país será provavelmente o único que, por razões que agora não importa dissecar, tem, a par das verdadeiras confederações, outras grandes associações multi-sectoriais com implantação nacional.
Assim, em inúmeras matérias, acabamos todos por ficar confundidos com vozes dissonantes e divergentes, com as confederações e as associações multi-sectoriais a intervirem separadamente a propósito do mesmo assunto.
Essa imagem de divisão no movimento associativo enfraquece-o ainda mais. E torna mais débil a representação dos interesses da indústria, do comércio, da agricultura ou do turismo.
A par das duas causas já expostas – o individualismo e o divisionismo - ocorre ainda a questão do paternalismo.
Também esta é uma questão verdadeiramente endémica no nosso país.
O Estado português, no seu todo, é estruturalmente paternalista.
E os cidadãos portugueses, por seu turno, são habitualmente dominados pela tentação de se deixarem embalar pelo pulso forte do Estado que alegadamente tudo sabe e resolve.
Mas, neste nosso contexto, a situação é ainda mais grave. A falta de cultura associativa e a ausência de verdadeiros hábitos de liberdade fez com que o Estado se habituasse a decidir em matérias que deveriam ser da competência das pessoas, das empresas e das associações. Essa tendência asfixiante do Estado mais se enfatiza quando o seu próprio subconsciente interioriza que as empresas e as suas organizações associativas se encontram inutilmente dispersas e esterilmente divididas.
O resultado é bem conhecido. As instituições do Estado lidam por vezes com as organizações associativas como se as mesmas fossem entidades menores. E acabam muitas vezes por manobrá-las a seu bel-prazer.
Infelizmente é verdade. O Estado divide para reinar. E tem um êxito assinalável na prossecução dessa estratégia.
Donde decorre que aos olhos de todos – do Estado mas também da própria sociedade civil – emirja uma imagem de ainda maior fragilidade por parte do movimento associativo patronal e fundamentalmente das suas organizações de cúpula. O que infelizmente acaba por legitimar a cultura paternalista do Estado, pelo menos aos olhos de todos aqueles que não assumiram ainda verdadeiramente a importância de todas as dimensões de uma sociedade livre e democrática.
Esta espiral é verdadeiramente castradora da iniciativa privada. E tenho-me perguntado em diversas ocasiões qual a forma de a fazer inverter.
Não tenho a pretensão de guardar receitas infalíveis para o que quer que seja. Humildemente, porém, não posso deixar de ter a absoluta consciência de que os empresários em geral e os dirigentes associativos em particular não têm feito o que está ao seu alcance para alterar este estado de coisas.
E nesse contexto, não têm sabido sequer aproveitar os próprios sinais dos tempos.
Com efeito, apesar das debilidades a que fiz referência relativamente ao movimento associativo patronal português, paradoxalmente, os tempos actuais propiciam um reforço da importância das associações de empregadores e das organizações empresariais em geral.
É isso que sucede já na maioria dos países desenvolvidos e é isso que entendo que terá de acontecer em Portugal.
E passo a explicar porquê.
Ao longo do século XX, a vida pública nas democracias estáveis esteve sempre essencialmente assente nas dinâmicas dos partidos políticos.
Aliás, foi isso que sucedeu em Portugal a partir da revolução de 1974.
Mal ou bem, os partidos políticos lideraram as transformações sociais, promoveram as reformas estruturais, fixaram as doutrinas económicas e procuraram ser sempre os depositários das expectativas dos diversos grupos sociais.
Tendo em conta a sua legitimidade democrática – que é naturalmente inequívoca e inquestionável -, mas também o enorme leque de responsabilidades e competências que lhes passaram a estar associadas, os partidos políticos concentraram um poder excessivo.
Como verdadeiros eucaliptos, tenderam a secar todas as formas de poder que tentaram gravitar fora do seu espectro.
Limitaram-se a tolerar a existência de organizações que pudessem controlar ou instrumentalizar. E nunca resistiram à tentação de procurar abafar o exercício livre de formas alternativas de poder.
É sabido porém que este retrato está a mudar nas mais diversas vertentes.
Nos últimos anos, os partidos políticos passaram a ser muito mais escrutinados pela opinião pública. Deixaram manietar-se por querelas internas. Deixaram de ser motores da sociedade. Perderam dinâmica. Perderam capacidade de inovação. Abdicaram das causas e da ideologia em nome do pragmatismo. Preferiram as tácticas à estratégia. E passaram a exercer o poder pelo poder.
Em consequência, perderam genuinidade. Perderam credibilidade. Perderam prestígio. Perderam o respeito da maioria dos cidadãos. E estão a perder o poder.
É sabido que o poder tem horror ao vazio. Pelo que a questão que se coloca em termos estratégicos é a de se saber quem poderá, em nome e em prol dos cidadãos e das empresas, ocupar na sociedade o espaço que os partidos estão a deixar livre.
Na minha perspectiva, as associações de empresas e empresários têm um papel fundamental a desempenhar neste processo de partilha do poder.
Mas para tal efeito, terão de repensar a sua estratégia e a sua própria actuação, até porque seria verdadeiramente absurdo que, neste momento histórico, replicassem os erros de outros.
Assim, em primeiro lugar, entendo que as organizações empresariais terão de assumir-se como associações de causas.
Quando fui eleito Presidente da CIP, no início do ano, propus aos meus pares um programa baseado na defesa de 4 causas: o primado da economia de mercado, a aposta na indústria transformadora e nos bens transaccionáveis, a defesa das empresas e, por fim, a dignificação dos empreendedores e empresários.
São causas que obviamente nos motivam, que nos envolvem, nas quais nos reconhecemos e pelas quais vamos combater. Poderia mesmo dizer que são causas de tal modo evidentes que nem seria necessário enunciá-las, porque resultam e decorrem da nossa própria natureza.
Mas não foi esse o meu entendimento.
Defendi que deveríamos tornar claro o nosso pensamento e organizar a partir dessa identificação de valores as acções concretas e as iniciativas específicas a levar a cabo para concretizar esse programa.
Defendia também que a CIP deve, ao mesmo tempo, partiCIPar e anteCIPar, porque queremos ser uma CIP que promove a participação, uma CIP que anteCIPa.
Estas são causas agregadoras, que geram espírito de corpo e nos motivam e envolvem.
E quando digo que são causas que nos motivam e nos envolvem quero dizer que se trata de causas que já existiam antes de nós e que nos cabe agora assumir e valorizar.
Só se tivermos causas fortes e bandeiras bem identificadas teremos capacidade para não cair na tentação de exercer o poder pelo poder.
Em segundo lugar, em coerência com os seus elementos estruturantes, defendo que as organizações associativas empresariais têm não só de ser verdadeiramente livres como também de procurar disseminar nos seus representados uma cultura de liberdade.
Esse caminho somente poderá ser trilhado se for defendido que o Estado serve apenas para regular e fiscalizar a economia e não para a subsidiar. Que as empresas e as suas associações devem contar em primeira linha consigo mesmas. Que devem libertar-se da tentação de correr para a manjedoura do Estado. E que têm o direito de exigir em contrapartida que o Estado assuma todas as suas responsabilidades e obrigações aos mais variados níveis. Ou seja: que crie leis reflectidas e exequíveis; que faça a Justiça funcionar; que pague pontualmente o que deve às empresas; que proteja a inovação e a propriedade industrial; que reduza a burocracia; que acabe com os custos de contexto; que crie sistemas fiscais competitivos com os países concorrentes; e que, numa palavra, contribua com a sua quota-parte no esforço que a todos é exigido no sentido de se aumentar a produtividade em Portugal.
Em terceiro lugar, para além de defensoras de causas e de valores, entendo que as organizações empresariais têm de ser fortes e coesas.
Para tanto, todos teremos de estar norteados pelos mesmos objectivos, em torno de elos agregadores.
Deveremos dispensar as pequenas guerras paroquiais, naturalmente estéreis e divisionistas, que tanto nos têm consumido.
Precisamos sim de unidade e coesão, pois só assim seremos respeitados e só assim teremos condições para exigir com transparência que sejam salvaguardados os direitos de quem representamos.
Finalmente, é fundamental que as organizações empresariais saibam mobilizar permanentemente aqueles que representam.
Para tanto, as palavras-chave terão de ser a inovação e a proximidade, de forma a que possamos ser ágeis e dinâmicos no sentido de procurar antecipar as soluções que se colocam às empresas em particular e à sociedade em geral.
Sem pretensões, aqui fica o meu contributo para um debate de ideias que reputo como fundamental e que gostaria de ver aprofundado de uma forma verdadeiramente sistemática.
Sinceramente, estou convicto da bondade destas sugestões. Pelo que espero que nos ajudem a reflectir em conjunto na definição do papel que deve caber às organizações empresariais na sociedade portuguesa.
E que contribua para que as organizações empresariais possam cumprir melhor as suas responsabilidades em prol da riqueza do país, da competitividade das empresas e do bem estar dos cidadãos.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Falei-vos dos grandes desafios que temos à nossa frente e dei a minha opinião sobre o que me parece serem boas soluções para o futuro.
Estou certo que vamos ser capazes de vencer estes desafios.
Os nossos compromissos são com o futuro, não com o passado. São com o que falta fazer, não com o que está feito.
"

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Critérios justos no apoio à economia

No editorial da edição n.º 187 da revista “TecnoMetal”, o Presidente da Direcção da AIMMAP denunciou o facto de as novas regras do PQE ignorarem totalmente as empresas do sector metalúrgico e metalomecânico.

Consequentemente, sublinhou que tais regras deverão ser rapidamente reajustadas, sob pena de, caso contrário, colocarem em causa a viabilidade de muitas empresas de enorme importância para a economia portuguesa.

Considerando a importância do tema em causa, transcreve-se em seguida o texto correspondente ao supra referido editorial.

"Apoios à economia

Já várias vezes assumimos que, no nosso entendimento, nem as empresas devem mendigar subsídios ao Estado, nem o Governo deve ter o direito de distribuir apoios a empresas ou sectores.
O apoio que as empresas reclamam é o de que lhes sejam criadas as condições indispensáveis para poderem trabalhar e ser competitivas com as suas concorrentes estrangeiras.
Os tribunais têm de funcionar, a propriedade industrial tem de ser protegida, a contrafacção tem de ser combatida, o sistema de ensino tem de ser racional, a legislação fiscal tem de ser competitiva e os custos de contexto em geral têm de ser removidos.
É isto que a iniciativa privada exige do Estado. Para além do correcto cumprimento do seu papel de regulador e fiscalizador.
Mesmo sabendo que em vários países da UE os Estados intervêm frequentemente em apoio directo às empresas e estando ciente de que a globalização desregulada em que vivemos distorce verdadeiramente as possibilidades de concorrência leal…
Há circunstâncias excepcionais em que, porém, no respeito pela regras da concorrência e de acordo com critérios de escrupulosa transparência, o Estado pode e deve ser chamado a ajudar as empresas a fazer face a situações de maior dificuldade.
Actualmente a economia portuguesa atravessa um dos momentos mais penosos da sua história mais recente. Tal circunstância, aliada ao facto de o nosso tecido empresarial estar a atravessar uma fase de mudança de paradigma – de uma economia alicerçada em baixos salários para um modelo assente no conhecimento -, justifica que consideremos o actual momento como de excepção.
Nesse sentido, o Governo actual, na sequência do trabalho já desenvolvido pelo anterior, tem vindo a criar e desenvolver medidas específicas de apoio às empresas.
Um dos programas mais importantes nesse âmbito foi precisamente o chamado PQE – Programa de Qualificação e Emprego, o qual se revelou fundamental para que muitas empresas pudessem manter e estabilizar o emprego sem riscos maiores de derrapagem.
Sucede que foi recentemente publicado um diploma com novas regras para o Programa em causa. E nesse âmbito verificámos estupefactos que, com excepção dos fabricantes de componentes para a indústria automóvel, todos os restantes subsectores da indústria metalúrgica e metalomecânica foram excluídos do acesso ao Programa.
Manifestamente, esta opção do Governo português não faz qualquer sentido. Com efeito, há alguns subsectores deste grande sector do metal que estão a sofrer acrescidamente com a actual crise.
Há dois casos especialmente significativos: os fabricantes de materiais de construção e os produtores de máquinas.
No primeiro caso, é sabido que a indústria de construção está a passar uma fase de brutal retracção. Não custa pois compreender que os fornecedores de materiais de construção estejam a pagar bem caras as consequências da crise do sector destino.
Quanto aos fabricantes de máquinas, é sabido que são sempre os primeiros a sentir os sinais da crise e os últimos a conseguir sair dos seus efeitos. Na verdade, quando a crise se anuncia cessam imediatamente os investimentos em novos equipamentos. E acresce que tais investimentos apenas são retomados quando começa a haver certezas de que a crise foi ultrapassada.
Pelo que, no que concerne a tais fabricantes de máquinas, é expectável que a retoma apenas suceda um ano depois de repostos os níveis de confiança empresarial.
Estes dois subsectores da indústria metalúrgica e metalomecânica – que sempre foram competitivos e têm normalmente uma notável vocação exportadora -, justificam pois maior atenção por parte do Governo.
Nesse sentido, o nosso apelo é o de que as novas regras do PQE sejam rapidamente reajustadas. Se tal não suceder vamos deixar definhar uma parte importante da nossa indústria e do nosso emprego. O que seria seguramente uma enorme irresponsabilidade.

O Presidente da Direcção
Aníbal Campos"

quarta-feira, 10 de março de 2010

Entrevista a Aníbal Campos

O novo Presidente da Direcção da AIMMAP, Aníbal Campos, concedeu uma entrevista à revista "TecnoMetal", publicada na edição nº 186, na qual enunciou, entre outras matérias, algumas das ideias que pensa implementar no exercício do seu novo cargo.

Atendendo à importância deste assunto, publica-se nas linhas subsequentes, na integra, o texto da entrevista em causa.

"TecnoMetal entrevista Aníbal Campos, actual Presidente da Direcção da AIMMAP
Tendo assumido recentemente o cargo de Presidente da Direcção da AIMMAP, começamos por perguntar-lhe quais os principais projectos que tenciona implementar nessas suas funções.
Sem fugir minimamente a essa questão, gostaria de dizer que, neste momento, seria muito pouco razoável estar a anunciar novos projectos.
Com efeito, conforme é sabido, fui empossado neste cargo num momento em que o mandato em curso dos órgãos sociais está praticamente a acabar.
Pelo que seria absurdo estar agora a introduzir grandes alterações ao que tem vindo a ser efectuado. Em primeiro lugar por uma questão de oportunidade, pois como referi o mandato em curso irá terminar muito em breve. Faço parte da actual Direcção desde o início do mandato, integrei inclusivamente as Direcções anteriores, e revejo-me naquilo que foi feito pelo meu antecessor, o meu Amigo e colega António Saraiva, o qual, aliás, sublinhe-se, assumiu desde o início uma governação consensual da associação. Sendo certo ainda que entendo também que o trabalho anterior foi bem feito, não faria agora qualquer sentido alterar a estratégia que tem vindo a ser seguida.
Como é evidente, e tal como já tive oportunidade de sublinhar, não deixarei de tentar introduzir novas marcas na governação. Aliás. só assim é que as organizações podem evoluir. Mas mudar por mudar não é seguramente uma boa opção. E além disso, este não será ainda o timing adequado para introduzir diferenças na governação e no trabalho da associação.
Qual será então o momento adequado para tal efeito?
Julgo que não será novidade para os mais atentos à vida associativa da associação que aceitei o desafio de encabeçar uma lista de candidatura aos órgãos sociais da AIMMAP para o próximo mandato, no lugar de Presidente da Direcção. Inclusivamente, a actual Direcção anunciou já que iria apoiar essa candidatura. Pelo que, caso os associados entendam confiar na lista que irei apresentar e nos venham a eleger, aí sim, será oportuno fazê-lo. Em todo o caso, iremos anunciar o nosso programa de candidatura muito em breve.
Será possível antecipar o anúncio de algumas dessas medidas?
Obviamente que sim e terei todo o gosto em fazê-lo desde já. A minha participação na vida da AIMMAP é absolutamente transparente e mau seria que não me dispusesse a dizer antecipadamnete o que tenciono fazer se continuar Presidente da Direcção nos próximos 3 anos. O que não quero é apenas colocar o carro à frente dos bois.
Posto isto, gostaria de sublinhar que a orientação estratégica da AIMMAP não pode nem deve ser alterada. Essa estratégia assenta fundamentalmente na importância da afirmação do sector metalúrgico e metalomecânico no contexto da economia portuguesa. E por outro lado, na defesa de uma aposta na diferenciação por parte das empresas.
Nesse contexto há algumas matérias em que pretendemos ser particularmente assertivos.
Em primeiro lugar, defenderemos a aposta na internacionalização das empresas como um verdadeiro desígnio nacional. Considerando que as empresas dificilmente poderão crescer no exíguo mercado nacional, penso que o país apenas poderá criar verdadeira riqueza se aumentarem as exportações. Nesse sentido, é fundamental que, pelo menos nesta fase mais próxima, sejam aumentados os apoios à internacionalização das empresas.
Essa é uma responsabilidade que incumbirá ao Governo e à própria AICEP. Mas cabe-nos ajudar as autoridades a encontarem o melhor rumo. Analisando o que o Governo anunciou recentemente nesse âmbito, estou convencido de que haverá condições para fazer um bom trabalho em prol das empresas e designadamente do aumento da respectiva capacidade exportadora. Em todo o caso, devo dizer que me inquieta que até ao momento não tenha ainda havido quaisquer sinais relativamente ao cumprimento de uma medida que constava do programa eleitorial do Partido Socialista, a qual se consubstanciava no aumento dos incentivos não reembolsáveis às acções de promoção no exterior de 45% para 70%.
Outro ponto que nos parece muito importante tem que ver com uma renovada concepção da Inovação. Um modelo mais alargado que não se cinja às acções de Investigação & Desenvolvimento. Que incida nos produtos, nos processos e até mesmo nos sistemas de organização das empresas. É preciso reconhecer um modelo de Inovação que seja ajustado à realidade das pequenas e médias empresas.
Iremos igualmente apostar na formação no sector, aí enfatizando a formação especialmente vocacionada para empresários. Para tal efeito, iremos naturalmente tentar reforçar sinergias com o CENFIM e o CATIM.
Estas serão algumas das ideias-chave que, no caso de virmos a ser eleitos, estarão presentes no nosso discurso e no nosso trabalho.
Independentemente do exposto, o essencial das nossas energias estará evidentemente centrado no desejo de apoiar as empresas associadas em particular e o sector em geral nos difíceis combates que se avizinham.
Considera que o sector metalúrgico e metalomecânico tem sido alvo da atenção que merece por parte do poder político?
Julgo que é evidente que o sector não tem sido incentivado e acarinhado como mereceria. Temos trabalhado ao longo dos últimos anos no sentido de mudar esse estado de coisas. E continuarei a empenhar-me seriamente no mesmo sentido.
Temos um problema estrutural que decorre do facto de o sector ser bastante heterogéneo. Isso poderá prejudicar a nossa afirmação estratégica face ao exterior, mas não desculpa a inércia dos sucessivos governos.
Sem entrar em competições absurdas como outros sectores, penso que não poderá deixar de ser reconhecido que o nosso sector revela indicadores de excelência. Somos o sector que mais contribui para as exportações portuguesas, aquele que mais investimento tem gerado numa conjuntura mais dificil como a que vivemos actualmente, consegue criar com alguma regularidade novos postos de trabalho.
Mesmo ao nível de outro tipo de indicadores mais específicos a performance do sector é notável. Há cada vez mais empresas certificadas, há um significativo investimento no domínio da propriedade industrial, o cumprimento pelas normas de prospecção ambiental é crescente e a sinistralidade laboral tem reduzido.
Julgo pois que temos toda a legitimidade para exigir do Estado e da própria sociedade que seja mais reconhecido o nosso trabalho em prol da economia e do bem estar das pessoas.
Não tenhamos porém dúvidas que há um longo caminho ainda a percorrer para que isso aconteça. Mas estou certo de que nos encontramos no rumo certo.
Mudando de assunto, como irá conseguir explicar aos seus congéneres de outros países o facto de haver duas grandes associações no sector metalúrgico e metalomecânico em Portugal?
Com muita dificuldade, como é óbvio. E tenho a esperança de que, mais tarde ou mais cedo, haverá condições para que haja uma voz única no sector. Em todo o caso, no meu entendimento as empresas é que são soberanas nessa matéria. Pelo que, quando na sua maioria decidirem que é tempo de mudar a actual realidade nesse âmbito, não tenho dúvidas de que a sua vontade prevalecerá. Da minha parte tudo farei nesse sentido.
Qual será o envolvimento da AIMMAP na CIP?
O mesmo de sempre. Ou seja: intenso, leal e construtivo. A AIMMAP defende, com a minha absoluta concordância, que a CIP é o legítimo representante da indústria em Portugal. E queremos que assim continue a suceder.
Tenho a convicção de que se perspectivam tempos muito dificeis para as empresas portuguesas. É preciso que a CIP seja forte e esteja coesa no sentido de ajudar as empresas a enfrentar as dificuldades. Na medida das nossas possibilidades, tudo faremos naturalmente para contribuir para essa força e coesão. E sempre que sejamos chamados a ajudar no que quer que seja nesse âmbito, daremos o nosso contributo de forma empenhada e desinteressada."

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma nova abordagem da Inovação das empresas

No editorial da edição nº 186 da revista "TecnoMetal", o Presidente da Direcção da AIMMAP chamou a atenção para importância da inovação nas empresas, reclamando ainda que o conceito de inovação seja repensado e ajustado à realidade das PME.
Enfatizando a pertinência e a oportunidade do tema abordado por Aníbal Campos, insere-se nas linhas subsequentes deste blogue o texto correspondente ao editorial em causa.

"Inovação

A Inovação é seguramente um dos domínios em que as empresas portuguesas podem e devem fazer mais investimentos no sentido de poderem ser cada vez mais competitivas.
Num momento histórico em que a indústria portuguesa deixa de poder competir na economia global com base em políticas de preços baixos, a aposta na Inovação adquire uma importância verdadeiramente incontornável.
Infelizmente, as políticas públicas de incentivo à Inovação continuam, do ponto de vista conceptual, a ser altamente restritivas. A indústria portuguesa é constituída por uma maioria esmagadora de micro, pequenas e médias empresas. Não obstante, em Portugal os modelos idealizados nesse âmbito apenas se adequam à realidade das grandes empresas, as quais, conforme é sabido, são uma pequena minoria do nosso tecido empresarial.
Com toda o respeito que é devido ao trabalho desenvolvido aos mais diversos níveis pelas grandes empresas, há todavia de assumir a coragem de ajustar as políticas de incentivos à Inovação à realidade das PME's.
Há que reconhecer os esforços desenvolvidos diariamente pelas PME's no sentido de inovarem em novos produtos, em novos processos de fabrico ou mesmo em novos paradigmas de organização.
Há que ter a consciência de que, nas PME's, a Inovação jamais poderá ser um departamento estanque das organizações, estando sim integrada de uma forma incindível em tudo o que é feito no dia-a-dia.
Há que estimular e reconhecer os avanços efectuados nesse domínio por pequenos empresários e respectivos trabalhadores.
E, mais ainda, há também que sensibilizar as empresas para a enorme amplitude do próprio conceito de Inovação.
Importa além disso continuar a apostar numa crescente aproximação entre as empresas e as universidades. E interessa igualmente explicar com pragmatismos que a Investigação não se reduz à investigação científica e tecnológica da mesma forma que a Inovação não se cinge à inovação tecnológica.
Enquanto Presidente da Direcção da AIMMAP, tenho o gosto de assumir igualmente o cargo de Director da "TecnoMetal".
Esta é uma revista que tem vindo a assumir-se como uma verdadeira referência no seu segmento editorial e que há muito foi pioneira na defesa de uma maior ligação da Indústria à Universidade.
Estou certo de que esta nossa revista pode pois ser um excelente veículo da disseminação dessa mensagem.
E todos teremos seguramente muito a ganhar com isso. A Indústria, a Universidade e o País.
Aníbal Campos
Presidente da Direcção da AIMMAP"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Entrevista a António Saraiva

António Saraiva, ainda no exercício do cargo de Presidente da Direcção da AIMMAP, concedeu uma derradeira entrevista à revista “TecnoMetal”, publicada na edição n.º 185.

Tendo em conta a importância e o simbolismo da entrevista, publica-se nas linhas subsequentes o respectivo texto, na sua íntegra.

"TECNOMETAL ENTREVISTA ANTÓNIO SARAIVA, PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA AIMMAP

TM: Num momento em que se prepara para assumir o cargo de Presidente da Direcção da CIP, que balanço faz de 6 anos como Presidente da Direcção da AIMMAP?
AS: Sem falsas modéstias e com toda a humildade de quem entende que é sempre possível fazer-se melhor, faço um balanço altamente positivo. Do ponto de vista interno, a AIMMAP está hoje totalmente equilibrada a todos os níveis. Não só em termos organizacionais e administrativos como também no domínio económico e financeiro.Por outro lado, existe um reconhecimento claro por parte dos associados de que a AIMMAP tem defendido os seus interesses de uma forma eficaz e assertiva. Recebo permanentemente indicações dos próprios sócios nesse sentido. Alargámos e aperfeiçoámos o leque dos nossos serviços, melhorámos significativamente a nossa capacidade de comunicação e evoluímos substancialmente na qualidade das nossas intervenções. A AIMMAP é hoje encarada por todos os agentes como uma entidade altamente dinâmica e competente. Devo aliás sublinhar que entendo que o convite que insistentemente me foi formulado no sentido de me candidatar a Presidente da CIP é também de algum modo o reflexo do excelente trabalho de toda uma equipa que tive o privilégio de liderar na AIMMAP.Actualmente, a AIMMAP é uma associação forte que sabe muito bem o que quer. E estou totalmente seguro de que a respectiva Presidência ficará muitíssimo bem entregue, com a assunção de tal cargo pelo meu colega de Direcção e Amigo Aníbal Campos, um industrial de referência no sector e um grande conhecedor do associativismo.

TM: Em seu entendimento, quais as principais marcas dos seus mandatos como Presidente da Direcção da AIMMAP?
AS
: Avaliações em causa própria são sempre muito discutíveis. Não sei se são marcas, mas tenho pelo menos um grande orgulho em ter contribuído nos meus mandatos para o cumprimento de resultados importantes.O primeiro ponto nesse âmbito é para mim a disseminação e a consolidação de uma estratégia para o sector que é hoje reconhecida aos mais diversos níveis. Apostámos decisivamente na mensagem de que as empresas deste sector devem investir na excelência e na diferenciação. Estou certo de que com essa aposta ajudámos a mudar o paradigma do sector, o qual é hoje reconhecido como decisivo para o futuro da indústria portuguesa.Quanto a trabalhos efectuados, há muitos pontos que gostaria de sublinhar. Para além da reestruturação e do saneamento financeiro da associação, que foi tarefa da maior importância.Constituímos a FELUGA, entidade que agrega as empresas metalúrgicas e metalomecânicas de Portugal e da Galiza e que vai paulatinamente desenvolvendo o seu caminho em prol do sector.Assumimos a Presidência da CERTIF, contribuindo activamente para que a mesma seja hoje uma marca de referência na certificação em Portugal, tendo inclusivamente ampliado o seu âmbito de actividade.Somos um dos principais promotores do PRODUTECH, o pólo tecnológico dos produtores de bens de equipamentos. Aliás fomos sócios fundadores da associação com o mesmo nome que tem a incumbência de gerir o referido pólo – a qual tem a sua sede nas instalações da AIMMAP. Ajudámos directamente centenas de empresas do sector nos seus processos de internacionalização, nomeadamente através da apresentação de sucessivos projectos de financiamento aos diversos quadros comunitários de apoio.Na área da propriedade industrial, promovemos o GAPI que melhores resultados obteve. Conseguimos finalmente a concretização de um objectivo de décadas, através da caducidade dos contratos colectivos de trabalho totalmente desactualizados com que as nossas empresas tinham de confrontar-se na gestão dos seus recursos humanos.Temos uma intervenção mais activa no CATIM, o qual por seu turno revela uma crescente excelência.Conduzimos a que a AIMMAP tivesse uma intervenção crescente na CIP.Cumprimos um objectivo também muito antigo, tendo dinamizado a actividade de todas as Divisões da AIMMAP, as quais são actualmente a verdadeira alma da associação, conforme aliás era nosso desejo.Reformulámos totalmente o nosso boletim informativo “Metal”, o qual convertemos num verdadeiro jornal, com muito maior difusão e conteúdos muito mais ricos.Reestruturámos igualmente a revista “TecnoMetal”, melhorando significativamente a sua qualidade aos mais diversos níveis.Criámos um novo site e dois blogues. E passámos a assegurar uma presença constante na comunicação social, através de artigos de opinião, reportagens ou entrevistas aos responsáveis da associação.Julgo que as iniciativas levadas a efeito no âmbito do programa de comemorações do 50º aniversário da AIMMAP foram também altamente marcantes. Dignificámos de forma especial a associação e o próprio sector. E também a comemoração do 30º aniversário da “TecnoMetal” foi um momento simbólico de grande relevância.Ainda neste momento preciso, há duas iniciativas em curso que me parecem da maior importância. A primeira delas é a realização de um estudo global sobre o sector metalúrgico e metalomecânico, o qual está já em curso e terá consequências muito importantes no sentido de uma maior afirmação do sector no contexto da economia e da sociedade civil portuguesas. A segunda, consubstancia-se no sucesso dos nossos esforços tendo em vista a salvação da actividade desenvolvida pela AFTEM no domínio do ensino tecnológico. Em articulação com a ANEMM e o próprio Estado português, criámos as condições para que as escolas tecnológicas da AFTEM possam ser absorvidas pelo CENFIM.Estes são, entre muitos outros, alguns pontos fortes destes dois mandatos. Devo no entanto sublinhar que aquilo que maior satisfação me deu foram claramente as causas em que nos envolvemos permanentemente em defesa dos interesses do sector e das nossas empresas. Umas vezes com mais sucesso, outras com resultados menos visíveis, o saldo foi quase sempre muito positivo. E foi seguramente esse bom trabalho que conduziu a que a AIMMAP seja hoje encarada como uma associação de referência.

TM: Entende que terá ficado alguma coisa por fazer, naquilo que eram os seus principais objectivos na AIMMAP?
AS: Quando se deixa um cargo, julgo que se fica sempre com a noção de que num momento ou noutro se poderia ter feito mais. Independentemente desse tipo de reflexões e de considerar que o saldo é muito positivo, vou ficar com uma mágoa, que é a de não ter sido possível que o associativismo neste sector tenha passado a falar a uma só voz. Gostaria de ter contribuído para a fusão entre a AIMMAP e a ANEMM. Infelizmente, nesse domínio não conseguimos concretizar os nossos objectivos. Continuo no entanto convencido de que isso será uma inevitabilidade.

TM: Como está actualmente o sector metalúrgico e metalomecânico?
AS: Este sector é muito heterogéneo, sendo por isso muito difícil fazer um diagnóstico global objectivo. Há subsectores em melhor situação do que outros.Em todo o caso, independentemente das diferenças e especificidades de cada subsector, penso ser pacífico o entendimento de que o sector, na sua generalidade, se pauta cada vez mais por critérios de excelência. É criador líquido de emprego, contribui de forma decisiva para as exportações nacionais e continua a gerar investimento. Assim sendo, criando postos de trabalho e gerando riqueza, penso que é um sector que deve ser reconhecido e acarinhado.

TM: Com que estado de espírito encara a sua previsível eleição para o cargo de Presidente da Direcção da CIP?
AS: Com o entusiasmo de quem se propõe tentar mudar as coisas para melhor e com o sentido de responsabilidade que o cargo impõe. Não estava nas minhas expectativas ser Presidente da CIP. E devo confessar que resisti insistentemente ao desafio que me foi feito nesse sentido.Porém, agora que a candidatura está concretizada, irei procurar contribuir para dignificar o associativismo, a indústria, as empresas, os empresários e o país.

TM: Como espera que esteja a CIP daqui a 3 anos?
AS: Desejo e espero que esteja mais forte, mais coesa e mais interventiva a todos os níveis.Tenho como objectivo imediato a criação de condições para que as associações que ainda não estão filiadas na CIP o venham a estar muito em breve.A CIP é uma instituição de referência em Portugal. O país, a democracia e a economia de mercado devem-lhe muito. Pelo que é importante que isso seja permanentemente sublinhado.Em termos práticos, procuraremos que daqui a 3 anos a CIP tenha mais associados, tenha mais receitas que lhe permitam fazer mais e melhor, comunique melhor com o exterior e seja respeitada pela sociedade civil como uma instituição que luta empenhadamente pelas causas que adopta.

TM: Quanto à reorganização do movimento associativo empresarial de que tanto se fala, quais serão as prioridades do seu mandato na CIP?
AS: Entendo que a CIP é a legítima representante da indústria e que esse é um pressuposto de que não poderemos abdicar. O nosso objectivo será o de atrair mais associações para o interior da CIP. E essa será assim a matriz da reorganização associativa no que se refere à indústria.Em termos mais globais, procuraremos conseguir uma maior articulação com as restantes Confederações. Com efeito, há matérias com um cariz estratégico para o país que não podem nem devem ser assumidas isoladamente por cada Confederação. Pelo contrário, entendo que devem ser sustentadas a uma só voz por todo o movimento associativismo patronal. São os casos, nomeadamente, da Justiça, da Legislação Laboral, da Fiscalidade ou da Energia.Nessas matérias terá de ser potenciada a tal voz única patronal. Só assim poderemos ser assertivos na defesa das nossas causas comuns.Como forma de materializar esse voz única, já defendi publicamente a eventual criação de um Agrupamento Complementar de Empresas – ou de uma estrutura idêntica -, que agregue todas as Confederações em pé de igualdade.É uma ideia que estamos ainda a avaliar com rigor. Mas o modelo jurídico não é por si só importante. O que conta verdadeiramente é a substância. E quanto a isso temos ideias muito claras."

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Balanço e agradecimento

No editorial da edição n.º 185 da revista “TecnoMetal”, António Saraiva fez um balanço da evolução da revista ao longo dos anos em que assumiu o cargo de Presidente da Direcção da AIMMAP e de Director da publicação em causa.

Para além disso, António Saraiva fez questão de manifestar o seu reconhecimento aos sócios e aos colaboradores da AIMMAP pelo apoio que sempre lhe concederam.

Nas linhas subsequentes deste blogue insere-se o texto correspondente ao editorial em causa.

"Uma palavra de reconhecimento

Enquanto Presidente da Direcção da AIMMAP ao longo destes últimos quase seis anos tive a honra de assumir também a responsabilidade pela Direcção desta revista.
Foi para mim um privilégio ter o meu nome associado a uma revista que é verdadeiramente uma referência de qualidade e excelência no respectivo segmento editorial.
E foi igualmente um gosto muito grande o de, durante este período em que fui Director da revista, ter ajudado a “Tecnometal” a assumir novos desafios que a engrandeceram ainda mais.
Ao longo destes meus mandatos, a “Tecnometal” teve a capacidade de evoluir de uma forma simultaneamente tranquila e significativa.
Foi criado um Conselho Técnico e Científico com o objectivo de ajudar a enriquecer os conteúdos e de potenciar a inovação. Reformulou-se e melhorou-se a imagem e a estética. Foram modificados os traços editoriais de uma forma que mereceu a adesão plena dos leitores. Criou-se um blogue específico da “Tecnometal”. Levou-se a efeito uma sessão comemorativa do 30º aniversário. Foi criado o “Prémio Tecnometal” no intuito de honrar os melhores artigos. E fundamentalmente conseguiu salvaguardar-se e consolidar-se a liderança no respectivo segmento de mercado.
Tudo isto foi feito com uma gestão económica e financeira equilibrada, tendo sido aliás criadas as condições necessárias para que a exploração da “Tecnometal” não seja causa de constrangimentos para as contas da AIMMAP.
Irei agora assumir um novo desafio, ao assumir as funções de Presidente da Direcção da CIP.
O exercício de tal cargo é naturalmente incompatível com a Presidência da Direcção da AIMMAP e a Direcção da “Tecnometal”.
Este será pois o meu último editorial nesta revista. Pelo que quero agradecer a todos os colaboradores da “Tecnometal” e muito particularmente ao seu Director Técnico-Científico, Hermenegildo Pereira, o empenho e a competência com que ajudaram a recriar e fazer evoluir esta revista. Quero agradecer também a todos os leitores a atenção com que sempre nos brindaram. E quero acima de tudo agradecer às empresas filiadas na AIMMAP a confiança que em mim depositaram para a assunção de tantos desafios que tive o privilégio de protagonizar.
A todos, pois, o meu sincero reconhecimento.
António Saraiva
Presidente da Direcção da AIMMAP"